Publicado em 20/02/03 às 18h38
Sua inquietação não o permite tirar folgas muito extensas entre um trabalho e outro. Paralelamente ao projeto para a televisão, Altman está definindo o casting do seu próximo filme, Ultraviolet, thriller satírico com vários personagens na linha de Nashville. Com as filmagens programadas para o segundo semestre de 2003, a história tem o foco nos marchands, pintores, falsificadores e críticos que habitam o Lower Manhattan. Idéia original de Altman com roteiro de Jeffrey Lewis, autor do drama para TV Hill Street Blues.
Já durante os anos de colégio, Altman demonstrava sua energia e incrível necessidade de descobrir o mundo quando começou a se interessar por experiências com som - nos jurássicos gravadores da década de 30. Estes experimentos foram abandonados quando ele ingressou na Força Aérea americana durante a 2ª Guerra Mundial, só retomando o contato com a arte em seu primeiro emprego após o armistício.
Ao mesmo tempo que escrevia artigos para revistas e roteiros para o rádio, começou a trabalhar na Calvin Co., em Kansas City - onde fez documentários, filmes institucionais de treinamento e propaganda -, e em obscuros filmes independentes. No final da década de 50, abandonou a empresa e dirigiu o filme independente Os Delinqüentes (1957) e o documentário The James Dean Story, trabalhos que lhe abriram as portas da televisão. Logo, tornou-se um dos diretores mais requisitados do meio, dirigindo episódios das séries Alfred Hitchcock Apresenta, Combate e Bonanza, entre outras.
Com inúmeros trabalhos durante a década de 60 e aclamado pela crítica americana, conseguiu o seu primeiro grande sucesso com a comédia de humor negro, sobre uma equipe médica durante a guerra da Coréia, M*A*S*H*, em 1970. Sem medo de inovar e experimentar, usou uma música composta por seu filho Mike - na época com 14 anos -, Suicide is Painless, como tema do filme. Com este irreverente filme ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes e sua primeira indicação ao Oscar, que além de lhe dar prestígio internacional, consolidou o relacionamento com um grupo de atores que a partir daí o acompanharia em outras importantes produções, como Elliott Gould.
A visão crítica da sociedade americana e sua maneira personalíssima de filmar ficaria ainda mais evidente nos seus trabalhos posteriores como Imagens (1972) e Nashville (1975), um devastador painel do estilo americano de ser, usando o ambiente da capital de música country como pano de fundo. Mas Altman também ficou conhecido como um cineasta que cometeu pequenos deslizes - e grandes fiascos comerciais. O mesmo diretor de obras fascinantes como Três Mulheres (1977) e Cerimônia de Casamento (1978), aceitou convites para dirigir filmes que foram um fracasso artístico e comercial como Popeye (1980) e Além da Terapia (1987).
Durante a década de 80, Altman conseguiu conciliar seu trabalho no cinema com inúmeras produções para a televisão. E se os filmes não renderam muito nas bilheterias, seu prestígio nunca caiu. Mas foi só em 1992 que retornou em grande estilo com o vencedor da Palma de Ouro, O Jogador, uma sátira ao mundo irreal dos magnatas de Hollywood. Filme definido por uma frase do diretor: "Não somos uns contra os outros. Eles [os executivos de Hollywood] vendem sapatos e eu produzo luvas".
Nos anos seguintes, reuniria um elenco estelar em Short Cuts - Cenas da Vida (1993), no polêmico Prêt-à-Porter (1994) e na comédia de humor negro A Fortuna de Cookie (1999), prova de que estar nos filmes de Altman dá prestígio e status. Suas produções mais recentes só comprovam isto. Foi assim para Richard Gere, seu protagonista em Doutor T. e as Mulheres (2000), que vinha fazendo filmes sem muita expressão; ou para Jeremy Northan e Clive Owen, que encontraram a fama internacional em Assassinato em Gosford Park (2001).
Agora é torcer para que seu jovem amigo Paul Thomas Anderson, diretor de Magnólia, tenha razão quando diz: "O homem tem a energia de um garoto de 20 anos. Acho que ele ainda estará filmando quando tiver 100 anos".
Curiosidades:
Pais: B.C (vendedor de seguros) e Helen Altman
Esposas e Filhos:
Kathryn Reed (1959 - atual) - Robert e Matthew, mais a enteada, Konni
Lotus Corelli (1954 - 195?) - Stephen e Michael
LaVonne Elmer (1947 - 19??) - Christine
Prêmios:
- Indicado ao Oscar como melhor diretor por Assassinato em Gosford Park (2002); por Short Cuts - Cenas da Vida (1994); por O Jogador (1993); por Nashville (1976) e por M*A*S*H* (1971)
- indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes com Kansas City (1976), Aria (1987), Louco de Amor (1986), Três Mulheres (1977) e Imagens (1972); vencedor com M*A*S*H* (1970) e O Jogador (1992)
- Globo de Ouro de melhor diretor com Assassinato em Gosford Park (2002)
- Urso de Ouro (honorário) do Festival Internacional de Berlin em 2002; indicado ao Urso de Ouro por A Fortuna de Cookie (1999); vencedor do prêmio Forum do Novo Cinema com Secret Honor (1985) - dividido com Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho; vencedor do Urso de Ouro com Oeste Selvagem (1976)
Cineweb-20/2/2003
Ana Vidotti
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