Quatro astronautas, que estão há 20 anos vagando pelo espaço, recebem uma mensagem da Terra dizendo que foram, oficialmente, abandonados. Agora, só lhes resta esperar o tempo passar e procurar formas de aplacar o tédio.
04/10/2021
O primeiro filme de John Carpenter, Dark Star, é uma comédia de ficção científica, uma combinação rara de gêneros que nem sempre funciona bem, embora aqui a mistura seja muito feliz. O longa, com roteiro dele e Dan O’Bannon (que anos mais tarde escreveria Alien, O 8o Passageiro), é uma sátira a 2001: Uma Odisseia no Espaço. Os autores devem ter se perguntando: e se fizéssemos um filme sobre aqueles momentos de puro tédio, que Kubrick não mostrou, quando os astronautas apenas esperam algo acontecer?
O resultado é uma comédia que envelheceu bem, com sua doideira e baixo orçamento bem visível. Seu charme e sua graça estão exatamente nas saídas criativas que Carpenter encontra para o dinheiro limitado. Visualmente parece tosco, mas dessa tosqueira imposta o diretor tira vantagem na simplicidade.
Os protagonistas são quatro astronautas que estão na nave que dá título ao filme há 20 anos no espaço, com a missão de explodir planetas instáveis. Nada vai muito bem. O comandante original morreu (e está largado numa câmara de criogênio), o computador central, chamado Mãe, passa o tempo tentando convencer uma Bomba com vida própria a não explodir. Além disso, o alienígena de estimação da equipe (que tem formato de bola de praia) passa o tempo atacando um dos membros da tripulação, Finback (O'Bannon).
As noticias que vêm da Terra também não são nada animadoras. Basicamente, os astronautas foram abandonados à própria sorte no espaço. Não que os astronautas estejam se preocupando muito com isso, aparentemente. Talby (Dre Pahich) é um hippie que passa o tempo olhando as estrelas; Boiler (Cal Kuniholm) usa pedaços da nave para a prática de tiro ao alvo; e o comandante Doolittle (Brian Narelle) não tem muita ideia do que fazer.
Originalmente, Dark Star foi o trabalho de conclusão de curso de Carpenter e O’Bannon, na University Of Southern California. Com 45 minutos, eles viram potencial para expandir um pouco mais, e o resultado foi o longa. Que, mesmo com o potencial cult que tinha, não recebeu um lançamento minimamente adequado, sendo exibido apenas em alguns drive-ins e tirado de circulação, até encontrar seu público em universidades e pequenas mostras e adquirir a posição que nasceu para ocupar.
Em alguns momentos, Dark Star chega bem perto de 2001, especialmente na sua reta final, embora, como é de se imaginar, guardadas as devidas proporções. Mas a dupla Carpenter e O’Bannon sabia muito bem o que fazer disso e como tirar humor do absurdo de toda a situação dos personagens, literalmente perdidos no espaço. E o humor cínico é uma marca que, de uma forma ou de outra, estaria presente em boa parte dos filmes seguintes do cineasta – até quando ele lida explicitamente com o terror.
Alysson Oliveira