Com 84 anos, Kimani Ng'ang'a Maruge quer se matricular em uma escola de ensino infantil no interior do Quênia para finalmente aprender a ler e escrever. Terá de enfrentar a intolerância dos pais, da comunidade e do próprio governo sobre sua presença na escola.
13/08/2014
Com um atraso de quatro anos desde seu lançamento internacional, a produção inglesa Uma Lição de Vida finalmente chega aos cinemas brasileiros. Baseado em uma história real, o filme de Justin Chadwick (de A Outra), mais do que tocar em um assunto ainda difícil na história do Quênia, os brutais confrontos sociais que levaram à sua independência, fala do poder da educação.
Chadwick, que é afeito ao novelão (como em Mandela – O Caminho para a Liberdade), teve um bom material para trabalhar: a vida de Kimani Ng'ang'a Maruge (1920–2009). Participante da violenta revolta Mau Mau contra a colonização britânica, ele e milhares de companheiros foram presos e torturados nos campos de concentração ingleses no país (1951–1959), por não renunciarem aos seus ideais.
Em 2004, quando recebe uma carta oficial do governo sobre os anos na prisão, chega à conclusão de que precisa aprender a ler (até para entender o que o documento diz). Aproveitando a promessa do presidente do país, “educação para todos”, propagandeada em seu mandato, Maruge (Oliver Litondo) decide se matricular em uma escola infantil perto de sua casa.
O pedido soa absurdo. Como um idoso frequentará as aulas com crianças? Embora seja contra, a diretora e professora Jane (Naomie Harris) acaba sensibilizada pelo drama da vida desse senhor e o aceita como aluno. Uma decisão que será mais tarde confrontada por pais, comunidade e até o ministério de educação. Em um exagero para o cinema, professora e aluno sofrem até ameaças de morte.
Na luta pelos direitos representados por Maruge, Chadwick não expia os pecados da colonização britânica (mostrada em flashes), ainda que faça duras críticas às relações de poder no Quênia. A intolerância, a corrupção e a arbitrariedade pintam o cenário do qual o protagonista quer fugir por meio de seu próprio aprendizado (na vida e na escola).
Ao carregar nas tintas, o diretor inglês intensifica os elementos mais emotivos de seu roteiro para envolver o espectador, o que, em linguem corrente, significa filme para chorar. Algo natural quando o tema é tão nobre e contundente.
O problema é que Chadwick não definiu bem em qual personagem focar, se em Maruge ou Jane, o que faz a produção se perder do ponto de vista narrativo. Mas a mensagem não poderia ser mais clara sobre a importância da educação para entender e mudar a história de uma nação.
Rodrigo Zavala