Norman não tem amigos entre os vivos. Apenas conversa com seres que já morreram. Esse é o seu dom. Na escola, ele é zombado; em casa, incompreendido. Porém, quando uma antiga maldição volta a assombrar sua cidade, ele é o único capaz de salvar a vida de todos.
04/09/2012
A famosa frase “I see dead people” (Eu vejo gente morta), de O Sexto sentido ainda ecoa em ParaNorman, animação stopmotion (com marionetes) que estreia nessa sexta-feira, somente em cópias dubladas, dirigida por Chris Butler e Sam Fell (de O corajoso Ratinho Desperaux), e tem como protagonista uma figurinha interessante: Norman (voz de Ícaro Amado), garoto vítima de zombaria na escola e incompreensão em casa – tudo porque ele vê, conversa e, mais do que isso, se diverte com gente morta.
Esse estranhamento de Norman – especialmente na escola – há um quê de Carrie, sofrendo na mão dos valentões, mal compreendido e que um dia poderá dar o troco. No caso dessa animação infantil, claro, a vingança não vem num banho de sangue, mas no despertar de um grupo de zumbis que se levantam por conta de uma centenária maldição da qual o garoto tenta livrar sua pequena cidade.
ParaNorman, de forma sutil, é um filme que levanta bandeiras e ataca preconceitos – há uma piada no final, com uma polêmica em potencial, mas, deve se saudar a ousadia dela existir, especialmente num filme infantil. Seu discurso é o da tolerância e aceitação, fazendo uma ponte entre passado – quando mulheres eram acusadas de bruxaria e queimadas ou enforcadas – e o presente, quando outras minorias sofrem preconceitos.
Na cidade onde Norman mora, uma bruxa foi enforcada e, antes de morrer, lançou uma praga sobre aqueles que a condenaram. Agora, essas pessoas levantam do túmulo e voltam para assombrar os moradores – que, na verdade, nem se assustam tanto, mas tomam as medidas mais drásticas contra os zumbis, instaurando o caos. Apenas Nornam, com seus poderes, é capaz de compreender o que está acontecendo e tentar ajudar vivos e mortos.
A paleta de cores dos diretores Butler e Fell é totalmente condizente com o tom sombrio da história. Desde sua abertura – com uma homenagem a filmes de monstros antigos – ParaNorman valoriza a criatividade, especialmente nas imagens, porque nem sempre a trama consegue manter o seu frescor. E os detalhes – desde o cenário até as expressões dos personagens – são assombrosos, ainda mais se levado em conta a complexidade de produção de um filme como esse.
Com sua sinceridade e gosto para o sombrio, ParaNorman oferece diversão com um quê de diferente. Sem medo de abraçar o sinistro, o filme é, ao mesmo tempo, encantador. Pode assustar crianças pequenas, mas tem o mesmo potencial para agradar outras maiores e adultos.
Alysson Oliveira