Bahia Benmahmoud é filha de uma ex-hippie e de um imigrante argelino. Militante aguerrida de várias causas, ela adota como tática dormir com os conservadores que encontra, para convertê-los pela sedução. Um dia, conhece Arthur, quieto e aparentemente careta. Um relacionamento tempestuoso está para começar.
29/11/2011
Em Os nomes do amor, seu segundo longa de ficção, o diretor francês Michel Leclerc mistura tudo – romance, política, memória, racismo, antissemitismo, identidade. A boa notícia é que se sai bem, criando uma comédia que fala sério, um filme sério em que os personagens sabem rir de si mesmos.
O nome da protagonista feminina, Bahia Benmahmoud (Sara Forestier), já é o protótipo da globalização, nessa mistura entre o nome do estado brasileiro – uma simpatia de seus pais – e o sobrenome argelino do pai, Mohamed (Zinedine Soualem). A mistura de sangue argelino, no entanto, é componente sério numa França dividida pelas novas leis antiimigração. E Bahia é a mais militante das militantes, não só nesta causa, como em todas.
Dona de uma vitalidade incansável e de uma boca duríssima, a bela Bahia é uma espécie de espírito libertário dos anos 60 atualizado para combate nos dias atuais. Efusiva representante de uma novíssima esquerda, a moça acredita que “todos os caras de direita são fascistas”. Empenhada em convertê-los, usa sua própria e peculiar versão de uma nova política do corpo – leva-os todos para a cama.
Um desses acasos leva-a ao encontro não exatamente de um fascista, mas a um discretíssimo veterinário, Arthur Martin (Jacques Gamblin). Ele veio participar de uma entrevista numa emissora de rádio, que é invadida por Bahia num de seus protestos individuais. Apesar de todas as claras diferenças entre estes dois opostos, eles certamente se atraem. E nasce um relacionamento para lá de tempestuoso.
Uma das qualidades do roteiro (assinado pelo diretor Leclerc e Baya Kasmi, premiados com um César em 2011) é o desenvolvimento dos personagens, não só os dois protagonistas, como seus pais, que entram na história representando pontos de vista em choque e que levam adiante a narrativa. Como a engajada mãe de Bahia (Carole Franck), contrastando com seu pacato marido, imigrante que prefere fazer a linha da invisibilidade, não do enfrentamento ostensivo, como a mulher e a filha.
Outro caso é dos pais de Arthur (Jacques Boudet e Michèle Moretti), classe média, comportados e, no caso da mãe, escondendo um segredo – sua origem judia, com o trauma da morte dos próprios pais num campo de concentração, o que ela sepultou no esquecimento.
Um momento impagável é quando todos estes pais se juntam num jantar no apartamento do jovem casal, gerando todo tipo de saia justa. O filme cresce nestes momentos, já que aos bons personagens são dados diálogos à sua altura, mantendo o ritmo acelerado.
Leclerc não poupa recursos para romper a monotonia, criando momentos de diálogo direto com a câmera e saborosas conversas entre os protagonistas adultos e seu ego criança, com efeito humorístico garantido.
Outro ponto alto é a participação do próprio ex-ministro socialista francês, Lionel Jospin, numa instrutiva conversa sobre a atual política francesa. Brincando, brincando, o filme faz uma saborosa autocrítica do país de Nicolas Sarkozy.
Nada funcionaria sem a explosão que é a atriz Sara Forestier, merecidamente premiada com um César aqui. Ela dá vida a uma personagem rara, envolvente, maluquinha e totalmente sincera.
Neusa Barbosa