Sylvia uma mulher estranha cheia de traumas do passado. Gina tem um caso extraconjugal que poderá destruir sua família. As histórias dessas duas mulheres têm um ponto em comum.
14/04/2010
O premiado roteirista mexicano Guillermo Arriaga (Babel, Amores Brutos) estreia na direção de longas com “Vidas que se cruzam”. Tal qual os filmes que roteirizou, trata-se de um drama fragmentado sobre destinos que se encontram em algum lugar da história.
O filme começa com a imagem de um trailer pegando fogo no meio de uma planície – cena que remete ao título original do filme, “The burning plain”, ou seja, “a planície em chamas”.
A partir daí, “Vidas que se cruzam” excede nas imagens que significam mais do que mostram. Sylvia (Charlize Theron), é a dona de um restaurante que, na vida pessoal, tem hábitos autodestrutivos, como fazer cortes em si mesma e levar para cama completos desconhecidos – não necessariamente nessa ordem. As feridas, claro, não significam apenas cortes na pele aveludada da atriz, estão lá para mostrar que também há cicatrizes emocionais no passado dessa personagem. Como se descobre mais tarde, estas têm muito a ver com a sua história com a própria mãe.
Os filmes roteirizados por Arriaga sempre se valeram de conceitos que necessitam de uma certa suspensãotemporáriada credibilidade para que funcionem, para que o público realmente acredite quando os pontos se conectam. O que ajudou até então nesses filmes foi o fato de as atuações serem bastante boas. O melhor de todos é Os três enterros de Melquiades Estrada, dirigido e protagonizado por Tommy Lee Jones. Arriaga, estreando na direção, é incapaz de conseguir uma performance tão boa de seu elenco, que inclui intérpretes que, em outros momentos, mostraram-se bastante competentes, como Kim Basinger (Los Angeles – Cidade Proibida) e o português Joaquim de Almeida (O Xangô de Baker Street).
Kim e Almeida são um casal de amantes, cuja história se passa em outro tempo e lugar, mas se conecta com a de Sylvia. Ela tem problemas com a filha (Jennifer Lawrence), e esta, mais tarde, começa a namorar o filho de seu amante (J. D. Pardo) – por namoro, entendam-se, eles ficam conversando, atirando em aves com um estilingue e depois assando a caça numa fogueira.
O Arriaga estreante na direção leva para o filme deslumbramentos de iniciante, que num futuro, poderão se transformar em vícios se não o forem abandonados. O problema não são os truques narrativos e visuais em si, mas a insistência com a qual aparecem no filme, mesmo sendo inúteis para a narrativa. Como qualquer escritor querendo bancar o espertalhão, o roteirista-diretor se apoia muito em metáforas tolas – daquelas que qualquer aluno colegial é capaz de decifrar.
A fragmentação do tempo no filme de Arriaga mais parece um recurso para tentar transformar em algo pomposo uma história banal que caberia muito bem nas páginas de qualquer romance água-com-açúcar vendido em bancas de jornal. Os personagens não têm a mínima densidade e o diretor-roteirista confia demais em suas metáforas rasas para transmitir qualquer informação ou avançar a narrativa. Assim, o único ponto positivo, a bela fotografia de Robert Elswit (Sangue negro) e John Toll (Simplesmente complicado), é desperdiçado em um filme cheio de pontos negativos.
Alysson Oliveira