Mesmo sem falar com Pauline há anos, Margot não deixa de ir ao seu casamento. O reencontro trará à tona anos de desentendimentos e problemas mal resolvidos, culminando em tragédias emocionais que envolvem todo o clã.
- Comentários do diretor e da atriz Jennifer Jason Leigh
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29/04/2008
O diretor e roteirista Noah Baumbach é um sujeito corajoso. Quanto a maioria das produções de Hollywood parecem andar todos para o mesmo lado – dar conforto ao público ao final da sessão -, ele entra na contramão e faz um filme povoado por gente estranha e irritante. O que para alguns pode parecer uma qualidade, para outras pessoas pode soar como um defeito: não ter ninguém para quem ‘torcer’ em Margot e o Casamento.
Depois da boa recepção de A Lula e A Baleia, Baumbach faz um drama moral à la Eric Rohmer – o título inicial do filme era Nicole no Campo, uma alusão ao clássico Pauline na Praia. Mais do que o jogo de palavras em títulos, a referencia ao mestre francês está na abordagem, na forma como tudo se resolve em diálogos – bem, nem tudo se resolve, mas tenta-se.
Margot (Nicole Kidman) é uma escritora que viaja com o filho para o casamento da irmã, Pauline (Jennifer Jason Leigh), com quem não fala há algum tempo, e ela também desaprova o noivo, Malcolm (Jack Black). Ela também tem seus segredos, pensa em deixar o marido (John Turturro) e começar uma nova vida sozinha.
O reencontro entre Pauline e Margot é o ponto de partida para que venha à tona uma série de ressentimentos e problemas emocionais envolvendo todo o clã. Por isso, com quer o diretor, este não é um filme agradável. São pessoas problemáticas lavando roupa suja sem muito pudor. As dinâmicas familiares são o que força a convivência, mas nem por isso uma garantia de amizade.
A fotografia assinada por Harris Savides (Last Days) carrega nos tons pastéis traduzindo na neutralidade das cores o abismo emocional que suga os personagens. Já a montagem de Carol Littleton (O Turista Acidental) corta direto para o momento dramático de cada cena, e corta novamente antes do final da ação, o que causa um bem-vindo estranhamento.
Já Nicole Kidman sempre parece mais à vontade quando faz personagens com os quais pode destruir os outros – basta vem em Um Sonho Sem Limites. Sua Margot é insuportavelmente manipuladora e mesquinha, e ainda assim, humana. Jennifer Jason Leigh também tem um dos melhores momentos de sua carreira como Pauline, a irmã frágil e emocionalmente fragilizada.
Lançado diretamente em DVD no Brasil, Margot e o Casamento pode não ser para todos os públicos, mas tem muito a que dizer a quem se aventurar entrar nesse universos neurótico.
Alysson Oliveira