Pascale (Isabelle Huppert) é mãe de Thierry e François, já adultos. Divorciada do marido, ela nunca teve muita afinidade com os filhos, com quem vive brigando. A tensão aumenta quando ela decide vender a casa.
04/10/2007
As coisas custam a acontecer – mas, quando acontecem, são devastadoras. Dirigido pelo belga Joachim Lafosse, este é um drama familiar feito em fogo brando. Isabelle Huppert é Pascale, mãe divorciada dos gêmeos Thierry e François, interpretados pelos irmãos Jérémie Rénier (A Criança) e Yannick Rénier.
A narrativa é construída em cima da tensão e dos momentos de desconforto entre esses três parentes que vivem sob o mesmo teto. As refeições passam a ter um papel fundamental para colocar em foco os conflitos dos personagens. Pascale tem uma relação difícil com os filhos, que piora muito quando ela decide vender sua casa – que foi comprada pelo ex-marido – e investir numa pousada com ajuda de seu atual namorado, o chef Jan (Kris Cuppens).
Para Thierry, esse empreendimento da mãe é uma espécie de traição. Ele se vinga contando tudo para o seu pai, Luc (Patrick Descamps, de Acordo Quebrado). Com isso coloca seus pais um contra o outro. Pascale, por sua vez, é omissa, mesmo sabendo que o comportamento do filho é extremamente inapropriado. Sua passividade contribui para o risco de uma tragédia.
Thierry é apresentado como um adulto que não cresceu. Com um comportamento infantil, ele vive abusando da mãe e chantageando o irmão, de temperamento mais pacífico. Embora em A Criança, Jérémie Rénier tenha feito uma espécie de bandido, ele conseguia transmitir um certo carisma. Aqui, o personagem é bem diferente com a sua arrogância e prepotência. Ainda assim, o ator consegue trazer humanidade para o seu personagem.
Por mais que os dois rapazes estejam bem, o centro do filme é Isabelle Huppert – mesmo que não haja um protagonista definido em Propriedade Privada. Em filmes como A Professora de Piano e A Teia de Chocolate, a atriz mostra que, nas telas, é capaz de sofrer como ninguém e fazer esse sofrimento extremamente sólido e verossímil.
O diretor Lafosse assinala que o amor é um dos sentimentos mais complicados que o ser humano pode sentir. Mostra também que os laços familiares podem ser estreitados ou afrouxados por causa disso. O resultado é uma família terrivelmente infeliz. Como já disse Tolstói, as famílias infelizes o são cada um à sua maneira.
Alysson Oliveira