Abandonado quando pequeno, Oliver Twist acaba indo parar numa agência funerária. Porém, ele foge para Londres, onde conhece um grupo de jovens ladrões, liderados pelo avarento Fagin. A vida do rapaz irá mudar ao conhecer um senhor bondoso que o leva para morar em sua casa. Mas os ex-colegas de delinqüência não deixarão o menino em paz.
11/11/2005
Com o premiado O Pianista (01), Roman Polanski adaptou um livro autobiográfico de um músico polonês que sobreviveu aos horrores no nazismo em seu país. A história centrada num gueto em Varsóvia era muito próxima daquela que o próprio diretor viveu. Essa estranha coincidência temática também pode ser encontrada no novo filme do cineasta, a adaptação do clássico de Charles Dickens Oliver Twist. O livro já foi levado às telas diversas vezes, a mais notória foi em 48, dirigida por David Lean.
As duas adaptações do livro acertam ao manter o tom sombrio da história do órfão que foge da casa do agente funerário que o adota, vai para Londres e acaba se envolvendo com uma gangue de ladrões mirins. A versão antiga estava sob a sombra da Segunda Guerra e a pobreza dickensiana ganhava outros contornos. Agora, Polanski carrega nas tintas pessoais ao retratar uma infância até parecida com a sua, que cresceu fugindo e se escondendo na Polônia ocupada pelos nazistas.
O filme, porém, começa quando o garoto é levado para trabalhar com outros órfãos, deixando de lado, assim, os primeiros capítulos do livro, quando é narrado o nascimento de Oliver e a morte de sua mãe. No romance, a identidade dos pais do garoto lhe trazem certas conseqüências, mas isso também não aparece no roteiro escrito por Ronald Harwood – o mesmo de O Pianista. Outras tramas paralelas foram igualmente abandonadas nessa transposição, mas nem por isso diminui a força do filme.
Polanski e Harwood optam por focar a história apenas nas aventuras e desventuras do pequeno órfão, interpretado pelo ótimo Barney Clark. Ele tinha apenas 11 anos quando o filme foi rodado e tem a aparência frágil e desprotegida que o personagem requer. Essa característica fica evidente logo numa das primeiras cenas, quando Oliver é obrigado a pedir mais comida no refeitório, que mais parece um campo de concentração.
Porém, é família do agente funerário com quem Oliver trabalha que começa a mostrar a degeneração social da época, uma mistura de vilões com personagens cômicos. Isso será mais acentuado quando o pequeno órfão foge para Londres e é acolhido por um grupo de jovens ladrões liderados pelo judeu Fagin (Ben Kingsley). Mas a sorte parece sorrir para o garoto quando ele é acolhido por um bondoso e rico senhor. Entretanto, o ganancioso velhote não se conforma em perder a sua nova fonte de lucros.
Rodado em Praga, Oliver Twist tem a cara do século XIX como foi descrito por Dickens em seus livros, com ruas sujas e abarrotadas e pessoas com o aspecto doentio e malnutrido. A luz, os figurinos, cenários e a trilha sonora remetem ao melhor dos filmes de época caprichados – sem serem excessivos.
Aliás, essa é a grande virtude da versão que Polanski fez de Oliver Twist. É uma adaptação literária de uma obra clássica que tem o devido respeito pela sua fonte, sem cair na reverência excessiva. Os personagens são humanos o bastante para se acreditar que realmente existiram com todas as suas virtudes e defeitos, medos e alegrias.
Alysson Oliveira