Leon Cakoff não era pessoa de meias medidas. Nem de deixar nada pela metade.
Por isso, certamente foi contra a vontade que partiu nesta sexta-feira chuvosa em São Paulo, 14 de outubro, exatamente uma semana antes do início da 35ª Mostra Internacional de Cinema.
Ele não ia querer isto. Mas certamente preferiria que o evento a que ele dedicou mais da metade de sua vida, mesmo assim, continuasse. Que as salas de cinema se enchessem dos filmes de cuja escolha, pela última vez, ele ainda participou, apesar da doença tão grave.
São Paulo mudou por causa dele, por causa da Mostra, responsável pelo aperfeiçoamento da cultura cinematográfica de tantos de nós pelo País, que acorriam à cidade, às vezes nas férias, para encher os olhos das imagens raras que Leon, há 22 anos escorado por Renata, sua mulher, caçava pelos festivais do mundo.
Está esquisito pensar que ele não está mais aqui, para nós que sempre o encontrávamos na rua, no cinema, nos festivais. A última vez que o vi foi em Cannes, em maio, onde sua saúde já estava muito abalada, mas ele ainda viu vários filmes e dividiu a mesa com amigos, contando algumas das muitas histórias de vida que ele carregava consigo e nunca economizou na hora de compartilhar.
É muito estranho pensar que esta Mostra, pela primeira vez em sua história, acontecerá sem a presença dele. A ausência dele na coletiva do evento, no último sábado, já foi um (mau) sinal do que nos aguarda. Força, Renata! Imagino um pouco o que todos estes últimos meses terão sido para você e envio meu abraço.
Apesar de tudo, a Mostra tem que continuar, tem que acontecer. Até para que a memória de Leon, que tive o privilégio de conhecer e de trabalhar junto e que me ensinou muitas coisas – até a não desistir de alguns sonhos -, não se apague entre nós.
Por isso, fará tanta falta. Hoje, a gente tem direito de sentir saudade, muita saudade.