Rever Deus e o Diabo na Terra do Sol (foto) o clássico de Glauber Rocha, em cópia restaurada em DCP 2k, na abertura do 47o Festival de Brasília, é destas experências renovadoras. Há menos de seis meses, eu o tnha revisitado. O que não abalou as emoções do reencontro com o filme, que está fazendo 50 anos de lançamento.
Lançada duas semanas antes do golpe de 1964, a obra continua atual, todo esse tempo demolindo fronteiras e tabus, poderosa em sua capacidade de sintetizar contradições milenares do País e da condição humana a retratar as mazelas dos camponeses Manuel (Geraldo Del Rey) e Rosa (Yoná Magalhães), perdidos no sertão, entre os desmandos dos coroneis donos da terra, dos beatos fundamentalistas e dos últimos jagunços, à sua frente, Corisco (Othon Bastos).
A música de Sérgio Ricardo (sobre os versos em cordel do próprio Glauber) é uma das pedras basilares desta catedral cristalina da brasilidade que o cineasta construiu aqui, com intuição poética e política precisas. "Se entrega, Corisco! Eu não me entrego não!", um de seus refrões a ressoar eternos na nossa memória afetiva. E a nos lembrar o quanto é complexa a identidade brasileira. O Brasil não é para principiantes, pontuava outro dos nossos gênios da raça.