O Príncipe encantado sofre de uma maldição: é irresistível às mulheres. O que poderia ser uma vantagem, mostra-se um grande problema, pois os súditos o odeiam, e as mulheres disputam sua atenção.
21/11/2018
Só a disposição de virar do avesso os dogmas de alguns dos mais populares contos de fadas já justifica elogios a Encantado, a animação dirigida e roteirizada por Ross Venokur. Numa área em que não é muito fácil inventar novidades – apesar das evoluções técnicas, que não são bem o forte aqui -, o filme diverte com esse frescor ao tratar da figura de seus protagonistas, o príncipe Felipe Encantado (dublado por Leonardo Cidade) e a heroína marginal Leonora Quinonez (Larissa Manoela).
O príncipe se encontra numa encrenca justamente por aquilo que, em princípio, seria uma vantagem. Devido à maldição de uma bruxa, que tinha uma pendência com o Rei, pai do menino, ele é tornado simplesmente irresistível para qualquer mulher. Por conta disso, vira alvo da fúria de seus próprios súditos, cujas namoradas caem pelo príncipe só de olhá-lo. Também por isso, ele acabou de casamento marcado com três noivas, Cinderela, Branca de Neve e Bela Adormecida, todas as quais ele salvou.
As três, na verdade, são o protótipo da jovem perua e o filme explora esse dado com fina ironia. Em contrapartida, Leonora, ou Lenny, é uma garota moderna e desinibida, um tipo de Robin Hood de saias, que rouba dos ricos mas na verdade fica com o produto do próprio roubo e não distribui nada não.
Ao ser capturada um dia, Lenny acaba tendo que topar uma missão: acompanhar, disfarçada de homem, o príncipe numa missão nos confins do reino, para cumprir determinadas tarefas que possam livrá-lo da maldição. A história investe com bastante humor neste contraste entre a garota esperta e valente, que é tudo, menos donzela em perigo, e este príncipe mimado. que nunca precisou usar mais do que a sua posição e charme para conseguir o que desejava.
Sem afastar-se totalmente dos clichês – afinal, o amor deve vencer -, Encantado diverte ao fugir saudavelmente da maioria dos estereótipos de gênero, juntando-se a outras experiências inclusive bem superiores, de animações com protagonistas femininas fortes, como Mulan, Valente, Pocahontas, Persépolis, O Castelo Animado e Divertida Mente. Que venham outras!
Neusa Barbosa