Duas bailarinas e deficientes visuais são as protagonistas desse documentário que as acompanha no cotidiano. Geyza é professora e está para se casar e Thalia, sua aluna, começa a enfrentar as mudanças típicas da adolescência.
01/11/2017
O diretor estreante Alexandre Peralta tinha, pelo menos, dois grandes desafios em seu documentário Olhando para as estrelas: não transformar o filme em mera propaganda institucional e não explorar de forma sensacionalista ou piegas a deficiência visual de duas figuras centrais do longa. E ele se sai muito bem em ambas as situações.
O filme tem como cenário principal a Associação de Ballet e Artes para Cegos Fernanda Bianchini, única instituição no mundo a dar aulas de balé para cegos. Nela, conhecemos além da própria professora Fernanda, duas de suas bailarinas, Geyza e Thalia, ambas cegas, apaixonadas pela dança e em momentos cruciais de suas vidas.
Geyza é um dos destaques da escola, onde começou a dançar há alguns anos. Agora, é a primeira bailarina, uma espécie de estrela da companhia, e está prestes a se casar. O documentário a acompanha por alguns anos, investigando não apenas seu trabalho como dançarina, mas também sua vida social.
Thalia ainda é adolescente e está descobrindo o mundo e aprendendo a lidar com a cegueira, como andar na rua sem ajuda da mãe, por exemplo. Na escola, conta, não tem amigos, e o balé serve como uma fonte de interação social, de convivência com as pessoas.
Peralta interliga a história dessas duas jovens pelo elo da dança e também de Fernanda Bianchini, bailarina e fundadora da Associação que leva seu nome, na Vila Mariana (SP). São histórias parecidas (especialmente a dela e de Geyza) e, ao mesmo tempo, obviamente, específicas.
O título do filme se refere, primeiramente, a uma estratégia das professoras de balé para fazer com que alunos e alunas cegas alonguem o corpo, elevem a cabeça como quem olha para o céu. É também uma forma do diretor dizer que seu documentário observa as estrelas de uma companhia de dança. Nesse sentido, elas são como quaisquer outras bailarinas diante de seu ofício, lidando com paixão e enfrentando os obstáculos.
Alysson Oliveira