Os juristas de Barcelona ainda não resolveram o imbróglio que se meteram e que deixou cineastas e defensores dos direitos da infância de toda a Espanha indignados. Em uma cena que só se pode imaginar kafkiana, um juiz indiciou o diretor artístico do já tradicional Festival Sitges de Cinema Fantástico de Catalunha, Ángel Sala, por permitir a projeção do filme A Serbian film, de Srdjan Spasojevic.
A produção, de senso estético pra lá de questionável e escatologia ímpar, narra a história de um ator pornô aposentado que recebe um cheque em branco para atuar em cenas sequencias e de sexo extremo (simuladas) também com menores. Tem até o boneco de bebê no meio. Depois de passar duas vezes de madrugada, associações de proteção ao menor acionaram a justiça e, numa situação inédita, mandaram prender o diretor do festival (que afirmou não ter visto o filme). Só faltou apanhar da polícia.
De um lado, os juristas alegam que nem tudo é permitido e que existe um limite, o Código Penal, e casos como este são exemplos de colisão direta com os direitos fundamentais. O mundo da cultura, por outro lado, avisa que não se devem colocar barreiras para a liberdade de criação. Tudo isso, em um contexto em que o catolicismo ibérico prevalece.
Embora as dúvidas acima sejam interessantes, o que se pergunta é: por que intimar Sala, que sequer viu o filme? Porque não processar o diretor ou mesmo a produtora? Se nenhuma criança é usada em cenas de sexo, apenas há uma insinuação ou simulação, há delito? Faz sentido uma história dessas?
Pasolini deve estar chorando de rir onde quer que esteja.